As marchinhas já começavam a
tocar no salão do clube Água Clara, serpentinas e bandeirolas de papel prendiam
do teto e balançavam levemente.
Na entrada, a conhecida
confusão gerada pela pressa das pessoas em entrar na festa, todas ansiosas para
aproveitar ao máximo aquele grande evento que só acontecia uma vez por ano.
Atordoado com a movimentação
e preocupado em não deixar entrar ninguém sem convite, Jonas, o porteiro,
sorria de forma automática para todos os foliões com as mais variadas
fantasias.
Jonas não estava fantasiado,
mas sim com seu uniforme habitual, que o sinalizava como o conhecido porteiro
do clube.
A cada pessoa que entrava,
um convite a mais era depositado na caixinha por Jonas. Cada folião daquele
carnaval, entrava com uma fantasia diferente, talvez carregassem sonhos em suas
vestes, ou somente brincadeiras.
Adorava aquela profissão por
causa disso, ao mesmo tempo em que sua imagem ficava marcada na cabeça das
pessoas, as pessoas deixavam pinceladas em sua vida. Cada sorriso que passava
era uma alegria para ele, cada perfume que suavemente sentia era uma viagem por
histórias desconhecidas.
Entre todos que entravam,
uma colombina de olhos muito escuros e sorriso tímido entregou seu ingresso.
Aquele simples gesto transformou o ar da festa para ele e para ela.
A colombina não queria
deixar a entrada do baile, mas teve de entrar, o porteiro queria que a festa
acabasse para ver a colombina passar de volta pela porta.
As músicas tocaram, o
confete choveu e, ao som das badaladas da madrugada, os convidados começaram a
sair. Em pouco tempo, Jonas percebeu que praticamente todos haviam saído, todos
menos a colombina.
Com as portas fechadas e os
funcionários do clube comendo alguns petiscos e aproveitando o disco que ainda rodava,
entrou no salão; em uma mesa ao canto, sentada, estava a colombina, tão
impecável como se não tivesse dançado um passo sequer, e não tinha.
Lena havia esperado com os
guizos de sua fantasia por todo o baile, até o fim, pensando no porteiro e
enfim, ele apareceu.
Se encontraram no meio do
salão sujo de confetes, iluminado por reflexos de um globo e sorriram, o único
sorriso que valeu a pena para aquele porteiro e o único dado sem nenhuma
timidez pela colombina.
Enfim aquela festa foi
completa, e o carnaval dos dois serpentineou
até o amanhecer entre danças, flertes e varridas no salão. Nada demais
aconteceu, o porteiro e a colombina teriam um ano inteiro até que pudessem se
fantasiar de casal no próximo carnaval.
Aluã Rosa
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