sexta-feira, 7 de março de 2014

Casinha


No fim daquela rua de paralelepípedos ficava a casinha.

Um amarelo desbotado coloria suas paredes, janelas e portas de madeira pintadas de branco ressecavam ao sol, entreabertas. O telhado tinha alguns buracos.

O capim crescia no jardim, já alto.

Nas noites em que a lua brilhava com mais intensidades, uma claridade esbranquiçada deixava o lugar com um aspecto mais fantasmagórico.

As crianças do bairro rondavam o terreno para investigar sobre as lendas que ouviam.

Ninguém ousava entrar.

Num dia, quando ninguém esperava, um caminhão de mudança estacionou na frente da casinha; desceram móveis muitíssimo antigos e objetos estranhos encobertos por tecidos brancos. Toda a vizinhança se perguntava quer iria habitar aquele sinistro endereço.

Por dias, viu-se a movimentação de encomendas entrando naquela construção, mas ninguém falava nada, explicava nada, arrumava nada. Os carregadores simplesmente deixavam as coisas e iam embora.

Ao fim da semana tudo parou, imaginavam que enfim o novo morador apareceria, ou que, no mínimo, todo o mato que rodeava a casa seria cortado, e o local, limpo.

No entardecer daquela sexta-feira, um carro vinho, todo polido, chegou na rua, andou devagar, parou em frente à casinha e uma das portas de abriu. Nada saiu do carro, ninguém desceu.

As janelas da casinha abriram e fecharam, batidas pelo vento.

O carro seguiu em frente.

Os vizinhos olhavam assustados entre as cortinas de suas casas.

A brisa leve trouxe o som de uma coruja que piava distante.

O dia seguinte amanheceu mais escuro e frio, as casas pareciam mais duras, mais distantes, a população daquele lugar agora era diferente, sem vida, sem nada.

Ninguém gostava de cruzar aquela rua, mesmo sendo uma passagem necessária para algumas pessoas, procuravam fazer outro caminho, por lugares mais alegres, mais normais.

Investigações foram abertas, curiosos apareceram para analisar o que teria acontecido com os moradores daquele lugar.

A cidade se voltou para aquela rua; soluções foram propostas, campanhas realizadas, a melancolia pairava sobre aquelas pedras de paralelepípedo.

Das ideias mais estranhas, uma muito simples foi aplicada. Numa manhã clara de sol, as pessoas mais alegres da cidade foram convocadas, se vestiram com as mais diferentes cores, entraram na rua, cantaram, fizeram graça. Alguns se atreveram a pintar de cores quentes as paredes das casas, distribuíram abraços, sorrisos e olhares felizes. Chegando perto da casinha, esforçaram-se e conseguiram entrar, a misteriosa onda de tristeza que se instalara nos cômodos desapareceu, talvez tenha fugido da felicidade que desfilava por aquela rua.

Tudo voltou ao normal.

Aluã Rosa



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