sábado, 1 de fevereiro de 2014

Círculo Vicioso


Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:



- Pudesse eu copiar o transparente lume, 
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:



- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela 
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:



- Pesa-me esta brilhante aureola de nume... 
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?


Machado de Assis


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