sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A pequena loja de histórias

  
 Competindo seu espaço na rua com os grandes lojões de variedades, estava ela, pequena e em cores discretas; uma porta com sineta ao lado de uma janela improvisada como vitrine faziam a fachada do estabelecimento, que, por muitas vezes era ignorado pelos passantes.
   “Loja de histórias” era o que dizia o letreiro, sem explicações, essa era a única definição. Não se tratava de uma livraria ou de uma empresa de contadores  de histórias, lá dentro você poderia encontrar o que muitas pessoas desprezam, esquecem, jogam fora.
   Por todas as prateleiras, cantos, caixas, em qualquer lado em que se pudesse olhar no pequeno cômodo, via-se garrafas. Garrafas de vidro, de plástico, de lata, garrafas compridas, roliças, coloridas. Todas vazias.
   Dante, o atendente e também dono da loja, passava o dia atrás de um minúsculo balcão esperando por algum cliente que pudesse entrar, mesmo que sem compromisso, sem levar nenhum produto, pelo menos que perguntasse o sentido daquilo tudo.
   Quase três anos mantendo seu projeto, alimentando diariamente a mesma esperança e nunca lhe havia aparecido alguém interessado. Três anos de sua juventude trabalhando em algo que nunca fora apreciado por ninguém.
   Num fim de tarde, já no término do encerramento do expediente, quatro pessoas entraram na loja. A felicidade, o espanto e a ansiedade de Dante eram tão grandes que nem percebeu que se tratavam dos seus melhores amigos do tempo da escola. Desde a formatura não os via, tinham perdido.
   Os cinco amigos se abraçaram, conversaram, e relembraram como eram felizes quando estudavam juntos. Um dos amigos tinha resolvido empenhar todas as suas forças na tentativa de buscar cada um e poder juntar novamente o grupo.
   Em meio as conversas, foi  impossível que não viesse a pergunta. “Mas afinal, qual a explicação pra essas garrafas?”.
   Como sempre tinha sonhado, Dante começou sua explicação.
   “Acredito que cada uma dessas garrafas, ao ser esvaziada teve uma história diferente, que cada uma delas participou de uma festa diferente, de despedidas, de reencontros como o nosso, com choro ou muito riso; essas histórias ficam guardadas dentro delas esperando que alguém as relembre ou simplesmente guarde junto de si. Ofereço a quem quiser, e enquanto ninguém  aceita, tenho todas as histórias aos meus cuidados.”
   Um pouco surpresos com o pensamento do amigo, mas também tocados por aquela sensibilidade, os quatro visitantes o convidaram para uma pequena comemoração de reencontro.
   Sairiam e poderiam se divertir do mesmo modo como quando eram mais jovens. No meio do caminho, uma parada para comprar um vinho.
   Dante não seria mais o solitário vendedor de histórias, teria sempre seus amigos para apoiá-lo, mas naquela noite não precisaria se preocupar com o futuro. Naquela noite ia poder gravar sua própria história naquela garrafa com os amigos.


                                                    Aluã Rosa

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