Todos os dias enquanto caminhava para a escola, a um certo ponto do caminho era surpreendido por um canto de passarinho vindo de uma grande árvore.
Eu olhava pra cima,
procurava entre os galhos, mas nunca via nada além das folhas.
Muitas vezes captava algum
movimento no meio da copa, ficava em dúvida se era vento ou o tal cantor, logo
desistia da procura e voltava a caminhar rumo às aulas.
Em dias em que estava mais
inspirado, saía mais cedo de casa e levava alguns pedaços de pão, parava ao pé
da árvore, enroscava os petiscos nos galhos mais baixos e esperava. O passarinho
não descia para comer. Quando voltava da escola, o pão não estava mais no
lugar.
Me impressionava muito o fato
de o passarinho nunca deixar de cantar, nenhum dia. Mesmo quando chovia ou
fazia muito frio.
Um dia, já irritado pelo
jogo de esconder do passarinho cantor, num ato não pensado, abaixei, peguei uma
pedra e atirei em direção ao som na árvore. Houve um barulho de asas batendo
nas folhas, o canto parou, a pedrinha caiu no chão. Percebi a besteira que
tinha feito e entrei em desespero. Como alguém poderia ser tão egoísta ao ponto
de tentar machucar um pobre animal pela própria curiosidade?
“Passarinho! Passarinho!”
Gritei preocupado. Mas logo o cantor me respondeu, num assovio atordoado.
Naquele dia não continuei
meu caminho, passei a tarde sentado nas raízes da árvore para ter certeza da
recuperação do passarinho. Ele cantou algumas vezes, a
cada melodia melhorava um pouco, o susto tinha passado. Quando o sol começou a se
esconder no horizonte e o céu ficou alaranjado percebi que precisava voltar
para a casa.
“Me desculpe, passarinho! Eu
só queria conhecer a cor das suas penas” Falei para o alto, para meu amigo
cantor.
Um farfalhar nas folhas foi
descendo pelos galhos até chegar à minha altura, um longo pio me cumprimentou e
o pequeno passarinho empoleirou-se em meu braço. Cantou uma melodia nova e
afinada, exibiu suas cores e voltou para a árvore.
Nos dias que vieram depois,
sempre que passava pela árvore, percebia as penas do cantor se movendo nos
galhos mais baixos durante o pequeno show entre as folhas.
Os meses passaram
rapidamente e o inverno chegou. Talvez meu amigo tenha migrado, não houve
despedida, na verdade, nem me lembro da última vez em que ouvi seu canto, mas
sei que quando a primavera deu o ar de sua graça, eu já caminhava desatento e
sem esperanças para a escola quando um som me despertou.
Trazendo de volta a alegria
daquela árvore o passarinho cantou. Ecoou.
Aluã Rosa
Curta aqui nossa página no facebook.
Siga por aqui o Catapalavras no twitter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário