Mesmo depois de tanta
insistência, Dora fora obrigada a ir para o colégio interno na capital.
Seus
pais não aprovavam a íntima amizade com o vendedor de pipocas da pracinha.
Na noite anterior, tinham se
encontrado pela última vez, conversado pela última vez. Comeram o último
saquinho de pipoca juntos, sentados na escada do coreto.
É difícil viver em uma época
em que as famílias ricas não permitem o relacionamento dos seus com pessoas de
classes mais baixas.
Simão, o pipoqueiro, não se
conformava com a partida de Dora, e ela, com a distância dele e suas ingênuas
conversas.
O apito do trem soava por
toda a estação, prestes a partir. Em meio a vapores e passantes, Dora saltou da
plataforma para o vagão.
Do outro lado da estação,
Simão corria entre as pessoas para atravessar o saguão e chegar até perto do
trem, queria se despedir mais uma vez.
Amassado, bem seguro em uma
das mãos do rapaz, ia um saquinho de pipoca.
Após um encontrão com os
pais de Dora na entrada da estação que quase o fez perder seu presente,
precisou correr mais.
Percebeu de repente as rodas
começaram a se movimentar, um súbito de tristeza e força de vontade se misturaram
em seu corpo,saltou, correu o mais que pôde, conseguiu avistar a janela de sua
tão adorada amiga.
Dora, sorridente e surpresa
abriu a janela a seu lado, Simão corria agora rente ao limite da plataforma.
Com o braço esticado, tentava entregar o saquinho à Dora, como um presente, uma
lembrança, como um beijo.
Sentiu braços fortes o
segurarem, foi puxado para trás, o saquinho voou de sua mão.
Entre pipocas, guardas e
gritos, desfazia-se o sonho de um pobre coração.
Aluã Rosa
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