Cinco bolinhas de borracha repousavam na mesa de centro da
sala ao lado de uma maleta. No quarto ao lado, dois rostos cansados ganhavam
cores a cada pincelada que desenhavam vagarosamente as curvas de inocentes
faces de palhaço.
O som de sirenes vinha de um lugar incerto. Buzinas
anunciavam o começo de mais um dia de trabalho.
Saíram do apartamento o casal, o bebê, bolinhas, garrafas e
um chapéu. Por entre desconhecidos, carros e a efervescência daquela enorme
cidade, partiram.
No primeiro ônibus, o mesmo que pegavam todos os dias,
alguns rostos conhecidos sorriam para a criança, outros achavam estranho o
casal palhaço tomando o circular. Depois de 40 minutos, desceram.
A curta caminha os levou até a creche pública em que o filho
passava o dia.
Tomando outro ônibus, segiram para o centro.
Mal batia 8:00h no relógio e vestiram-se com as roupas
coloridas do ofício. Uma saia surrada cheia de pompons, um colete fechado com
botões enormes, fitas, uma gravata.
No primeiro sinal vermelho dos carros, descortinou-se o
asfalto e o trânsito deu lugar a arte.
Os rápidos malabaristas enchiam de cores a faixa de
pedestres. Bolinhas e garrafas voavam e rodavam em meio aos reflexos dos
retrovisores.
Depois de cada espetáculo, os sorridentes artistas passavam
seu chapéu entre os carros. Motoristas encantados faziam-se plateia e
contribuíam, alguns erguiam os vidros, outros ignoravam.
Era um jeito diferente de ganhar a vida, fazia-os felizes.
Ao fim de cada tarde, depois de incansáveis apresentações,
contavam seu mirrado cachê e faziam o caminho de volta para a casa com o filho
de 1 ano.
Cansados e queimados de sol por fora, mas por dentro,
felizes por poderem alimentar a família com moedas e amor, e alimentar aquela
metrópole com um pouco de arte a cada dia.
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