sexta-feira, 21 de março de 2014

Malabares de Outono

   

    Pelas grades da janela entravam os raios do sol que nascia inaugurando um novo outono.
   Cinco bolinhas de borracha repousavam na mesa de centro da sala ao lado de uma maleta.    No quarto ao lado, dois rostos cansados ganhavam cores a cada pincelada que desenhavam vagarosamente as curvas de inocentes faces de palhaço.
   O som de sirenes vinha de um lugar incerto. Buzinas anunciavam o começo de mais um dia de trabalho.
   Saíram do apartamento o casal, o bebê, bolinhas, garrafas e um chapéu. Por entre desconhecidos, carros e a efervescência daquela enorme cidade, partiram.
   No primeiro ônibus, o mesmo que pegavam todos os dias, alguns rostos conhecidos sorriam para a criança, outros achavam estranho o casal palhaço tomando o circular. Depois de 40 minutos, desceram.
   A curta caminha os levou até a creche pública em que o filho passava o dia.
   Tomando outro ônibus, segiram para o centro.
   Mal batia 8:00h no relógio e vestiram-se com as roupas coloridas do ofício. Uma saia surrada cheia de pompons, um colete fechado com botões enormes, fitas, uma gravata.
   No primeiro sinal vermelho dos carros, descortinou-se o asfalto e o trânsito deu lugar a arte.
   Os rápidos malabaristas enchiam de cores a faixa de pedestres. Bolinhas e garrafas voavam e rodavam em meio aos reflexos dos retrovisores.
   Depois de cada espetáculo, os sorridentes artistas passavam seu chapéu entre os carros. Motoristas encantados faziam-se plateia e contribuíam, alguns erguiam os vidros, outros ignoravam.
   Era um jeito diferente de ganhar a vida, fazia-os felizes.
   Ao fim de cada tarde, depois de incansáveis apresentações, contavam seu mirrado cachê e faziam o caminho de volta para a casa com o filho de 1 ano.
   Cansados e queimados de sol por fora, mas por dentro, felizes por poderem alimentar a família com moedas e amor, e alimentar aquela metrópole com um pouco de arte a cada dia.

Aluã Rosa

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