sexta-feira, 20 de junho de 2014

O passeio do Rei

www.jornalvozativa.com Foto: Tino Ansaloni
   
   Num reino não muito distante de nós, nem muito antigo, nem muito novo, havia um Rei.
   Ah, Como era bom aquele Rei, o povo o adorava, desde os mais humildes servos e camponeses até os nobres mais nobres, todo o seu povo o amava.
   No passado, quando o reino sofria pelos ataques dos inimigos, o Rei salvou a todos com uma prova de bravura e amor nunca vista antes.
   Por todos os lugares o Rei era lembrado, exaltado. Em todas as casinhas ele se fazia presente, nos pensamentos, nas conversas, nas canções. O Rei habitava o coração de seus súditos.
   Estava disponível, sempre, em sua morada oficial, para receber a quem precisasse.
   Todas as pessoas que quisessem podiam encontrar-se com o Rei, a qualquer hora, a qualquer dia da semana. Era um refúgio.
   Lá, o Rei ouvia, aconselhava, abençoava, ou simplesmente acalentava a cada um com seu simples olhar compreensivo e amoroso.
   Mas havia um dia, uma festa, em que o rei saía de sua morada para andar pelo reino, em pessoa.
   Ah que festa o dia da caminhada do Rei, que bonito de se ver! A pessoas enfeitavam as janelas, usavam suas melhores roupas.
   Nas ruas não se via uma pedra, pois os súditos espalhavam tecidos coloridos, flores, papéis e tudo mais que poderia servir para decorar o local dos passos do Rei.
   Das pessoas mais pobres até as mais ricas e poderosas, todas se uniam para homenagear o Rei da melhor forma que conseguiam, pois sabiam que nenhum poder era maior que o dele.
   E o Rei, na hora marcada, saía pelas ruas enfeitadas mirando com seus olhos a todos seus fiéis súditos e pisando cuidadosamente por aqueles “tapetes” tão humildes e tão dignos de sua passagem.
   O Rei passava, abençoava o povo e depois voltava para sua morada onde continuava recebendo a quem precisasse, a qualquer hora.
   E pela cidade ficava o doce aroma de sua presença magnífica, na memória das pessoas seu sorriso tão acolhedor e gentil, e nos corações daquele povo ficava seu amor. Para sempre.

                 Aluã Rosa

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sábado, 14 de junho de 2014

Bandeira de retalhos

Imagem disponível em:  http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/fotos/2014/06/leitores-enviam-fotos-de-ruas-enfeitadas-para-copa.html
   
   Do teto dos bares da cidade pendem fitinhas verdes e amarelas que dançam ao bater do vento.
   De janelas, sacadas e postes, bandeiras do Brasil esvoaçam e vibram com a torcida brasileira.
   No asfalto sem movimento dos bairros, figuras ilustres, bolas e listras são pintadas nas cores da nação.
   Até as flores amarelas resolveram desabrochar em meio suas verdes folhas em comemoração.
   O dia começou diferente. Nos jornais, na televisão, nas ruas da cidade, em tudo havia um clima festivo, não era somente mais um dia ensolarado brasileiro.
   Com os olhos de todo o mundo voltados para o país e turistas, irmãos de outras nacionalidades chegando para confraternizar, para jogar, a festa estava prestes a começar, de norte a sul, em cada canto dessa terra adorada.
   Mesmo sem a casa totalmente pronta para receber os convidados, o evento aconteceria; alguns problemas, alguns atrasos, e um povo trabalhador sofrendo com os desmandos de quem deveria organizar tudo, mas a família de brasileiros não negou seu sorriso a cada um que queria torcer, vibrar.
   Aconteceu, cada coração brasileiro pulsou mais forte, e em coro bradou o hino de sua terra mãe, a bola rolou, as mãos se levantaram, as gargantas gritaram, e a união tomou conta de vez de cada pessoa, em cada estado, em barracos, sítios e mansões, tudo se tornou uma só massa que vibrava.
   Começou, enfim, a copa do mundo, e não há mal em participar dessa grande festa entre nações. Já está acontecendo.
   De bandeira em bandeira, de fita em fita, a cada pincelada verde, amarela ou azul que é traçada, o chão do nosso país se colore para brindar com todas as nações sua humilde festa do futebol. Todos juntos, numa grande bandeira de retalhos e rostos que se estica para abraçar o mundo.

           Aluã Rosa


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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Oratório


   Com suas pequenas e tortas estrelinhas pintadas de amarelo no fundo azul da madeira envelhecida, os dois pequenos vasos sempre com flores frescas do quintal e os anjinhos rechonchudos já descascando, velava toda a casa o antigo oratório do alto da cômoda onde se apoiava, protegendo com suas frágeis paredes a pequena imagem da Vigem Maria e um crucifixo que os antepassados, imigrantes italianos, haviam trazido de seu país.
   A família, de muita fé, conservou muito bem o oratório que os acompanhou na difícil vinda ao Brasil. Trouxeram-no em meio às roupas da bagagem naquele navio apinhado de pessoas, e passavam os piores momentos da viagem agarrados àquela malinha que escondia precioso tesouro.
   Desde a chegada daqueles italianos, o oratório nunca mudou de lugar, na humilde casinha de poucos móveis, sobre a cômoda onde se guardavam as roupas, à luz do grande lampião que clareava toda a residência.
   Assistiu partos, prantos, gritos de alegria.
   Gerações e gerações passaram horas ajoelhadas rezando a sua frente. E o oratório sempre lá, sempre disposto a mais um Glória ao Pai, assim como os ouvidos de Deus que nunca se cansam de acolher as nossas preces e pedidos de perdão.
   Os respingos de cera amarela se sobrepunham no lugar onde tantas vezes foram acesas velas em agradecimentos, novenas, festas.
   Nas datas mais importantes do ano era difícil algum horário em que ninguém estivesse dedicando alguma atenção ao oratório.
   Todos os dias depois do jantar, a família toda se reunia para rezar por mais um dia vivido.
   Daquela forma, mães se tornaram avós, depois bisavós, tataravós. Muitos fios de cabelo tornaram-se brancos.
   A família modificou-se. Cresceu, trabalhou, evoluiu, mas sua base sempre continuou a mesma, seu alicerce foi mantido, e com isso, por mais que crescesse, sempre estaria firme.
   Os novos, mesmo os que nunca tiveram contato com os primeiros donos daquele oratório, receberam por herança a fé, e continuam a propagá-la, não deixam que a chama se apague, que tudo se desfaleça.
   Assim, mesmo com as tantas décadas já passadas, e as que ainda prometem vir, as portas daquele oratório nunca se fecharam uma vez sequer, nem hão de ser fechadas, pois muito mais do que suas tortas estrelinhas amarelas e suas imagens sagradas, guarda as firmes raízes daquela família, o amor e o cuidado de um Pai por seus filhos.

Aluã Rosa



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