- Que situação!
Exclamava a todo instante aquele
senhor dentro do carro; viúvo, sozinho, foi obrigado a morar com o filho na
cidade. A ideia não agradou nenhum pouco, ficar preso em um apartamento e ter
concreto como paisagem na janela era demais.
O filho, por sua vez, tentava
convencê-lo de que seria bom ficar mais próximo dos médicos, da tal
civilização. A proposta foi feita “ou o galo vai junto, ou não vai ninguém”.
Era uma ideia estranha, mas se a condição era aquela, o que poderia ser feito?
O galo foi, hospedado no mesmo
quarto que seu dono, agora seria o despertador oficial do apartamento, ou
melhor, do andar inteiro.
Mas o galo não cantou já na
primeira manhã.
Depois de levar uma grande bronca
do chefe devido ao atraso, o filho saiu do trabalho com uma ideia na cabeça,
comprar um despertador para o pai se esquecer do galo, comprou.
Chegando em casa, entregou o
despertador para o senhor e depois disso se arrependeu profundamente.
O velhinho encantou-se pela
máquina, maravilhou-se com o magnífico mecanismo que fazia sons na hora
marcada.
Tamanho foi o encantamento, que
na manhã seguinte acordou bem cedo com seu novo despertador e partiu para a
rua, rodou mercados, lojas, vendas, bazares e gastou toda a sua aposentadoria
em despertadores.
Agora sim era um homem feliz.
O apartamento estava ficando
lotado de despertadores. Nas cômodas, aparadores, no alto dos guarda-roupas, na
mesa da cozinha, tudo despertava. A cada cinco minutos um deles tocava em algum
canto e o velhinho corria pelo apartamento em busca da fonte do barulho.
O galo descontrolou-se e passou a
cantar a qualquer hora do dia. Dezoito cartas do síndico já haviam chegado,
todas com a mesma reclamação. O filho tinha olheiras enormes no rosto e cada
dia chegava em um horário diferente no trabalho. Demitido.
A décima nona carta chegou no dia
em que foi comprado o último despertador. Isso mesmo, o último, depois dele não
veio mais nenhum, afinal, o sítio em que foram morar depois de serem expulsos
do prédio ficava muito distante das lojas; de despertador, somente o galo
mesmo.
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