sexta-feira, 2 de maio de 2014

Pipocas na estação

  

    Mesmo depois de tanta insistência, Dora fora obrigada a ir para o colégio interno na capital.
   Seus pais não aprovavam a íntima amizade com o vendedor de pipocas da pracinha.
   Na noite anterior, tinham se encontrado pela última vez, conversado pela última vez. Comeram o último saquinho de pipoca juntos, sentados na escada do coreto.
   É difícil viver em uma época em que as famílias ricas não permitem o relacionamento dos seus com pessoas de classes mais baixas.
   Simão, o pipoqueiro, não se conformava com a partida de Dora, e ela, com a distância dele e suas ingênuas conversas.
   O apito do trem soava por toda a estação, prestes a partir. Em meio a vapores e passantes,    Dora saltou da plataforma para o vagão.
   Do outro lado da estação, Simão corria entre as pessoas para atravessar o saguão e chegar até perto do trem, queria se despedir mais uma vez.
   Amassado, bem seguro em uma das mãos do rapaz, ia um saquinho de pipoca.
   Após um encontrão com os pais de Dora na entrada da estação que quase o fez perder seu presente, precisou correr mais.
   Percebeu de repente as rodas começaram a se movimentar, um súbito de tristeza e força de vontade se misturaram em seu corpo,saltou, correu o mais que pôde, conseguiu avistar a janela de sua tão adorada amiga.
   Dora, sorridente e surpresa abriu a janela a seu lado, Simão corria agora rente ao limite da plataforma. Com o braço esticado, tentava entregar o saquinho à Dora, como um presente, uma lembrança, como um beijo.
   Sentiu braços fortes o segurarem, foi puxado para trás, o saquinho voou de sua mão.
   Entre pipocas, guardas e gritos, desfazia-se o sonho de um pobre coração.

   Aluã Rosa

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