Dia e noite ela corria, com suas quedas espalhava água para os lados e
criava certa névoa ao seu redor. Inverno e verão passavam e a cachoeira
continuava sempre do mesmo jeito, com suas cristalinas águas descendo, correndo
sempre na direção do mar.
Aos pés da queda, um tranquilo rio deslizava por curvas, atravessava
cidades até chegar ao seu destino final.
Helena mudou-se com a família para aquele lugar havia três dias. Passava
a maior parte do seu tempo desembalando suas coisas dentro do seu quarto; às
vezes se cansava e parava para apreciar a cachoeira de sua janela.
No auge de seus 8 anos e amante da leitura, sempre se perguntou por que
tantas pessoas ainda não conheciam aquele mundo mágico de contos, poemas,
universos que podiam ser visitados no simples ato de se ler.
Refletiu sobre o que viu no caminho até sua casa nova, as casas nas
margens do rio, pensou que talvez muitas daquelas pessoas não conhecessem essas
viagens, aventuras que as palavras podiam proporcionar. Queria, se pudesse,
presentear cada um com um livro, cada pessoa do mundo com o mesmo prazer que
sentia quando abria uma nova história.
Foi dormir com essa ideia. Queria mudar o mundo, ou parte dele. Queria
fazer alguma coisa para proliferar a magia das letras pela Terra, mesmo que só atingisse
a uma pessoa, sabia que valeria a pena.
Naquela noite sonhou com barcos , navios que levavam riquezas de reino
para reino. Na manhã seguinte acordou destinada a apresentar a literatura às
pessoas.
Revirou em sua prateleira e encontrou um livro que já tinha lido várias
vezes, eram sonetos. Arrancou página por página com cuidado para não rasgar,
desceu as escadas correndo, foi até a margem do rio manso logo abaixo da
cachoeira, sentou-se e começou a dobrar os papéis.
Cada folha gerou um pequeno barquinho de papel, sua carga? Sonhos. Cada
barquinho carregava um soneto diferente, de um autor diferente e para uma
pessoa diferente.
Agachada, soltou cada um dos barcos na água sossegada do rio, eram
centenas. Molhou os pés e observou enquanto as palavras tomavam conta do rio e
rumavam para seus destinos. Não sabia quem leria ou ao menos se chegaria a ler.
Sem saber que depois da primeira curva os barquinhos iriam derreter e se
desfazer, saiu feliz por ter dado a alguém a oportunidade de conhecer a beleza
da literatura. Ou ao rio. Subiu as escadas e foi escolher o próximo livro.
Aluã Rosa
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